Andreas Kisser concedeu uma entrevista ao Road To Metal, blog gaúcho dedicado ao Heavy Metal, que cada vez mais está se consolidando como um dos principais sites de notícias do gênero no Brasil. Confira abaixo um trecho da entrevista realizada por Renato Sanson e Eduardo Cadore.
Road to Metal: O Sepultura está trabalhando na divulgação de “Kairos”, novo álbum que é baseado na própria história da banda. O que impressiona é a receptividade do disco por parte da mídia e dos fãs, muitos deles comparando o álbum ao clássico “Arise”. Como integrante dessas duas fases, quais as principais mudanças desde o disco de 1991 até agora, passados exatos 20 anos?
Andreas Kisser: São muitas mudanças, tanto dentro como fora da banda. O baterista e o vocalista são diferentes o que traz uma sonoridade diferente pra banda, apesar de independentemente da formação, o Sepultura sempre trouxe algo de novo a cada disco. Outras mudanças são as tecnológicas. 20 anos atrás só existia fax, só tinha vinil e o CD estava nascendo. Hoje temos o que temos, os grandes avanços da tecnologia e informação, mas o mais importante é que estamos aqui, no presente, sendo uma banda relevante no mundo, este é o nosso Kairos.
RtM: Sobre os shows que você fez com a Big Four, o que representou tocar com os norte americanos do Anthrax está lenda do Thrash Metal ainda mais substituindo a lenda viva Scott Ian?
Andreas: Foi uma grande honra, o Anthrax faz parte do meu DNA como guitarrista, me influenciaram muito, juntos com as bandas do Big 4. Fiquei muito feliz com a convocação, feita diretamente por Scott Ian.
Preparei-me bastante e foi fantástico. A química entre a gente funcionou e os shows foram memoráveis, uma das melhores experiências da minha vida, eu só tenho que agradecer a confiança do Anthrax.
Preparei-me bastante e foi fantástico. A química entre a gente funcionou e os shows foram memoráveis, uma das melhores experiências da minha vida, eu só tenho que agradecer a confiança do Anthrax.
RtM: E como foi para você tocar com o Anthrax um clássico do Sepultura “Refuse/Resist” onde a galera ficou extremamente agitada ao ouvir o riff inicial? Ainda sobre o Anthrax como surgiu a idéia de tatuar o símbolo da banda com as cores da bandeira nacional?
Andreas: Foi foda! Na verdade foi uma ideia do Charlie Benante [N.E. baterista do Anthrax] e no ensaio que tive com eles antes do primeiro show, nós testamos e ficou muito foda. No último show, Anthrax e Sepultura tocaram juntos em um festival na Holanda, toquei dois shows em uma noite e no final do show do Anthrax nós tocamos Refuse/Resist com o Sepultura inteiro no palco, foi animal! Tatuei o símbolo do Anthrax com a bandeira do Brasil por que, como disse, foi uma das minhas melhores experiências na vida como músico. Este símbolo eles fizeram especialmente pra mim, pra que eu usasse na camisa oficial de shows.
RtM: Em 1989 quando foi lançado o aclamado “Beneth The Remains” vocês fizeram sua primeira turnê fora do Brasil, ao lado dos alemães do Sodom, mas o que marcou está turnê foram os conflitos que existiam entre as duas bandas, Andreas o que você lembra destes ocorridos? Pois vocês de convidados da turnê acabaram se tornando atração principal tamanha qualidade e agressividade que o novo trabalho esbanjava sendo até mesmo comparado com “Reign in Blood” do Slayer.
Andreas: Foram conflitos de pequeno porte, rolou um ciuminho dos caras porque fora da Alemanha o Sepultura já era mais conhecido e respeitado do que o Sodom, mas foi tranquilo, fizemos uma grande tour e protestamos contra o tratamento que nos era dado com uma campanha de não tomar banho. Acho que os últimos 10 dias da tour foram assim, realmente Thrash!
RtM: O Sepultura é conhecido por valorizar os artistas que lhes influenciam de alguma forma. Lembro quando a versão de vocês para “Bullet the Blue Sky” do U2 saiu (no álbum Roorback”, de 2003) causou bastante polêmica entre os fãs mais radicais, já que se esperava algum cover de banda de Heavy Metal. Agora, resolveram “sepultanizar” “Just One Fix” do Ministry. Quem teve a ideia inicial e como é para vocês fazerem releituras de bandas de outros gêneros musicais?
Andreas: Isto é normal na nossa carreira, fazer um cover de uma banda que não tem nada a ver com o Metal. No “Chaos AD” fizemos New Model Army e Titãs, no “Roots” a “War, do Bob Marley, depois Devo, Massive Attack, etc. É mais fácil e óbvio fazer covers de bandas que tem a ver com o estilo do Sepultura. Mas é mais interessante e desafiador fazer algo que não seja tão óbvio, você aprende muito mais e faz coisas que normalmente não faria, é uma grande escola. A ideia veio de um brainstorm para se achar material extra para edições especiais.
RtM: A banda está voltando de mais uma turnê de sucesso na Europa. Isso não é novidade. Porém, vocês se apresentaram pela primeira vez no Wacken Open Air, maior festival de Metal do mundo. Por que isso só foi acontecer nesta edição de 2011? Podem falar um pouco sobre o que sentiram em cima daquele palco?
Andreas: Não sei o porquê da demora. Era meio ridículo mesmo que uma banda como o Sepultura ainda não tivesse se apresentado neste grande festival, mas nunca é tarde. As coisas acontecem quando tem que acontecer mesmo e foi fantástico, acho que foi um dos melhores shows da nossa história, um público 100% Metal de todas as partes do mundo, inclusive muitos sul-americanos com bandeiras e camisas de futebol de seus times, foi mágico.
RtM: Há poucos dias atrás o Sepultura se apresentou pela terceira vez no Rock in Rio. Nas edições de 1992 e 2011, a banda estava em fases diferentes, mas tocaram no palco principal. Em entrevistarecente você revelou que a banda optou pelo Palco Sunset para não abrir mão de tocar com o Tambour du Bronx (França), numa jam que chamou muito a atenção pela mescla sonora que é uma das principais características da banda. O que você poderia nos falar sobre essa experiência e as anteriores nesse que é o maior festival já realizado em nosso país?
Andreas: Foi realmente foda, uma junção de sons e estilos que nunca se viu em nenhum outro grande festival do mundo. O Palco Sunset foi o grande diferencial de outros festivais, juntando nomes consagrados em parcerias únicas e históricas. Já conheço o Tambour du Bronx há uns três ou quatro anos, fizemos uma música juntos no “Kairos” (“Structure Violence”) e tivemos a ideia de trazê-los para o Sunset. Foram muitas trocas de arquivos pela internet, arranjos e conceitos. Alguns dias antes do show eles chegaram e ensaiamos em um estúdio no Rio de Janeiro onde a teoria se tornou realidade. O show foi muito além das expectativas, que já eram boas mas foi realmente foda, um dos grandes shows da nossa história.
RtM: Na turnê de divulgação do álbum conceitual “A-Lex” (2009), muito se falou de alguns shows que o Sepultura realizaria junto com uma orquestra que no qual executaria o álbum na integra e teria a possibilidade de gravação de um DVD, mas esses shows acabaram não acontecendo. Com o sucesso que foi o álbum e os shows de divulgação, o que não deu certo que impossibilitou a realização desse projeto?
Andreas: Nós fizemos um show com orquestra na Virada Cultural de São Paulo neste ano e foi maravilhoso, fizemos a “Ludwig Van...” ao vivo pela primeira vez e outros temas antigos do Sepultura. Vamos fazer este DVD no ano que vem, mas não somente do “A-Lex”, vamos sim fazer um DVD com toda a história da banda em arranjos ousados, com muita energia. A música erudita e o Metal são do mesmo planeta, quase falam a mesma língua, combina muito.
RtM: O Sepultura se prepara para uma turnê conjunta com o Machine Head, que vem pela primeira vez ao Brasil. Em 2009 vocês também fizeram turnê conjunta com os brasileiros do Angra. Como estão sendo os preparativos desta turnê, que está sendo esperada ansiosamente pelos fãs?
Andreas: Estamos ansiosos também. Já tocamos com o Machine Head em outras oportunidades, conhecemos bem a banda e somos amigos de longa data. Estamos felizes de fazer esta tour juntos, principalmente porque é a primeira vez que eles vem ao Brasil. A tour com o Angra foi muito boa, juntando públicos diferentesdentro do Metal e foi muito bem aceita. Vamos mostrar muita coisa do disco novo e, claro, toda a história da banda.
RtM: Estaremos acompanhando o grande show em Porto Alegre/RS (16/10/11), ocasião que a banda tocará clássicos e músicas do novo disco, dividindo o palco com o Machine Head e o Almah. Vocês preparam um set list fixo para os shows de toda a turnê, ou variam de show para show? Além disso, podemos esperar alguma surpresa para esse show em especial?
Andreas: Temos um set list básico, seria como uma espinha dorsal de músicas que sempre tocamos e que tem que fazer parte do nosso show, mas temos lugares no set que podemos fazer mudanças de acordo com o que estamos a fim de fazer em determinadas noites. Uma jam é sempre possível, mas ainda não temos nada armado.
RtM: Andreas, em nome de toda equipe Road To Metal, gostaríamos de agradecer pelo tempo cedido nesta super entrevista e deixamos o espaço final a você e, mais uma vez, muito obrigado.
Andreas: Eu que agradeço o espaço e espero ver todos os headbangers neste show que vai ser muito especial. As duas bandas vivem momentos muito bons e este concerto vai ser histórico. Abraço a todos.
Matéria Original : Road To Metal
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